24 julho 2008

SOU UM CORAÇÃO BATENDO NO MUNDO

Quando escrevi o poema “Inquietação”, que é, também, o título do meu terceiro livro, encontrava-me num momento de efervescência sentimental, pois na época eu havia perdido minha irmã do meio, que teve morte súbita. Este poema, inclusive, foi impresso em formato de cartão e entregue como lembrança para todos os familiares e amigos que compareceram na missa do sétimo dia. Naquela época, eu já tinha a consciência da perda e do quanto é difícil perder a quem amamos, seja para a morte ou para outra pessoa. A perda é verdadeiramente um sentimento inacabado dentro de nós e que nos causa muito desconforto. Não sabemos direito como encarar alguns fatos e superar outros e conheço pessoas que mesmo com o passar de muitos anos, ainda sofrem com as tais perdas. Me perguntaram esta semana, como eu consegui e consigo “dar a volta por cima” das perdas que tive, e seguir em frente. Bom, a questão básica é que tenho a convicção de que necessito seguir em frente. Não há nada que eu possa fazer, a não ser seguir em frente e fazer isto da melhor maneira possível. Amar os outros é uma forma de salvação individual que conheço, pois ninguém estará perdido se der amor e se receber amor em troca como uma conseqüência natural. Entregar-se a novos projetos, ao trabalho e ao lazer ajuda a desviar o foco e ver que a vida continua. Mas acima de tudo, saber lidar com a realidade que estamos vivendo num dado momento; Compreender que tudo tem um ciclo que tem um começo, um meio e um fim; Aprender que tudo acaba, tudo passa, tudo se recicla e tudo se renova; Entender que ninguém é de ninguém nesta vida, e que todos somos substituíveis até que seja cumprida a nossa missão pessoal; Saber ser um coração batendo no mundo e pulsar da melhor e mais profunda maneira, até que ele próprio, ao cessar seus batimentos, deixe como vívida lembrança um ritmo de fortes e inesquecíveis emoções para aqueles que ficarem. Assim, vivendo um dia de cada vez e com os olhos firmes no futuro, pode-se vislumbrar que além do horizonte há sempre um lindo lugar com pessoas incríveis esperando por você, por mim e por todos nós.

INQUIETAÇÃOCatarina Poeta
Largos são os horizontes,
Distantes são os caminhos,
Fortes os sentimentos,
Intensos são os carinhos,
Raros são os momentos,
Tristes as despedidas,
Marcante é a saudade,
De quem amamos um dia





"...Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha
a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo".
Clarice Lispector

5 comentários:

Dois Rios disse...

Catarina,

A perda é por demais impiedosa. Seja ela qual for. Para mim perda é sinônimo de "nada". Há quem diga que ficam as boas recordações, mas isso não me preenche. Quero pele, toques, afagos, carinhos de pai, mãe, irmãos, amigos, amores. Quero olhares, sorrisos, lágrimas e presença. Quando se perde alguém fica um imenso buraco no peito que tempo algum preenche. Pode suavisar, mas jamais se fechará.
Particularmente não gosto do Paulo Coelho, mas ele tem uma frase que cabe muito bem aqui:
"Existem derrotas, mas não existe o sofrimento. Um verdadeiro guerreiro sabe que ao perder uma batalha está melhorando sua arte de manejar a espada. Saberá lutar com mais habilidade no próximo combate."
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A perda é isso. É um reedificar-se sempre.

Beijos meus,

Menina do Rio disse...

As perdas são inevitáves e como a Terra ou a Lua, também temos nossas crateras na alma. A vida é imperfeita na sua perfeição

Um beijinho

Marta disse...

Inexplicação da ausência imperdida

Um carinho*

jguerra disse...

O sentimento de ausência é difícil de explicar, de equacionar. Raras são as palavras que a descrevem.

Abraço

railer disse...

concordo contigo que a gente precisa seguir em frente. e acho que, de qualquer tipo de perda, o importante são as boas lembranças que vão ficar dentro da gente, transformando a saudade em algo que conforta.

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